Num novo método de gravação, caminhando, falando e seguindo a improvisação, a décima edição do Papolento aborda o complexo de inferioridade nordestino. A partir de um comentário do amigo advogado Rômulo Lisboa no Facebook, falamos sobre a preguiça intelectual que nos leva a desdenhar de posições contrárias às nossas, sem nos dar ao trabalho de considerar a justeza dos argumentos. O vídeo do Olavo de Carvalho sobre uma nova lei da União Européia pode ilustrar bem o ponto. Ao conectar as lembranças das férias passadas com a família do meu pai, quase toda do Sudeste, e de como eu falava "mineirês" nessas ocasiões, com um comentário da jornalista Manuella Bezerra de Melo, pedindo para os amigos pernambucanos não desvalorizarem "o sotaque mais lindo da América do Sul", pronunciando o "ti" e "di" como "tchi" e "dchi", refletimos sobre a relação entre o sotaque e complexo de inferioridade do Nordeste, e a grande parcela de responsabilidade da mídia, que oferece poucos exemplos de pessoas que falam sofisticadamente com o sotaque nordestino. Muitos têm a falsa impressão que "falar bem" implica em forçar o próprio sotaque na direção daquele falado no Sudeste, predominante na mídia. Nos parece que articulação e fala pausada são os pontos fundamentais para ser compreendido com clareza, e um esforço nesse sentido pode ser feito respeitando as características de cada sotaque. Defendemos, portanto, que o "pastiche sudestino" na mídia local não somente é desnecessário, como também tem um peso enorme no complexo de inferioridade nordestino. Ao discutir as "afirmações da cultura nordestina", fazemos um manifesto contra a "dependência dos especialistas", que tendem a monopolizar as discussões, com grande parte das pessoas apenas repetindo as opiniões deles e perdendo a capacidade de argumentar sozinhos. Ao comparar o complexo de inferioridade do Nordeste em relação ao Sudeste com o complexo de inferioridade do Brasil em relação a países como a França e a Alemanha, constatamos o quanto viajar contribui para eliminar tais complexos, na medida em que o contato direto com as pessoas do local dissolve muitas idealizações que não correspondem à realidade. Lembrando de um argumento lido do cineasta Gabriel Mascaro, "em busca de outras representações do Nordeste", refletimos sobre o quanto as ações de afirmação da cultura nordestina ajudam a reforçar o "Nordeste Folclórico", enquanto o "Nordeste Cosmopolita", por exemplo, tende a ser ignorado. E esse interesse através do "exótico e folclórico", tantas vezes dirigido ao Nordeste, é semelhante ao olhar dirigido ao Brasil, partindo de países como a França e a Alemanha. Defendemos que não se deve "forçar a barra" nem em relação à cultura nem ao sotaque: ser pernambucano não nos obriga a gostar de cuscuz com charque ou frevo, e se a diluição do sotaque nos é natural ao morar bastante tempo longe da terrinha, também não há nenhum problema nisso. Vídeo do Olavo de Carvalho: http://www.youtube.com/watch?v=i9a9cS15IRk